Reúso de água dilui gastos do prédio
Armazenar chuva para limpar o quintal e regar plantas é prática comum em época de rodízio no fornecimento de água.
Mas, em prédios comerciais e residenciais, os sistemas de tratamento já vão bem além desse tipo de aproveitamento e permitem cortar até pela metade o valor da conta de abastecimento e esgoto.
Os processos mais conhecidos de filtragem e cloração foram incrementados com o tratamento da água de ar-condicionado e das águas cinzas -efluentes domésticos, com exceção dos da bacia sanitária e da pia de cozinha.
Após a passagem pela estação, a água de reúso pode ser utilizada em jardinagem, na limpeza e no reabastecimento dos vasos sanitários.
Embora o investimento seja alto, a redução nas contas de água e esgoto pode atrair até mais que o engajamento ambiental.
"A instalação de uma estação autônoma no condomínio pode gerar uma economia de 50% no consumo mensal", afirma Marcelo Zanini, diretor da Biosistemas Ambiental, especializada em sistemas de tratamento.
Os valores deduzidos da conta dizem respeito não só ao volume de água potável economizado. Envolvem a redução do volume de esgoto descarregado na rede pública de saneamento, pois a conta de água é dobrada pela cobrança de abastecimento e descarga do líquido.
Condomínios que possuem estações autônomas de tratamento instalam um segundo medidor na saída do esgoto, para que seja computada pela concessionária apenas a quantidade eliminada na rede.
Cerca de 70% dos dejetos de unidades domiciliares são compostos por águas cinzas.
O primeiro passo para implementar um programa de conservação de água é o estudo da distribuição do consumo.
O projeto varia com especificidades dos sistemas e usuários e deve ser específico para cada empreendimento.
"Precisa ser feito um balanço hídrico para saber qual é a demanda de água de reúso e a capacidade de produção", diz Sybille Muller, engenheira da fornecedora AcquaBrasilis.
O dimensionamento será importante na decisão do tipo de sistema e para o seu melhor aproveitamento, evitando a produção além da necessidade.
Mercado imaturo
Apesar do aumento na demanda por projetos de estações de tratamento para reúso em residenciais, especialistas alertam que as construtoras pouco se preocupam com o custo de manutenção e com a economia a longo prazo, preferindo fazer cortes no investimento inicial.
"As construtoras investem para a venda de imóveis a curto prazo e deixam de gastar em um sistema econômico a longo termo", fala Gilson Cassini, presidente do Sindesam (Sindicato Nacional das Indústrias de Equipamentos para Saneamento Básico e Ambiental).
"É uma conta que depende do tipo de empreendimento", aponta André Aranha, consultor do SindusCon-SP (sindicato de construtoras).
"No mercado imobiliário residencial, a vantagem precisa ser percebida pelo comprador que esteja disposto a gastar um pouco mais na compra e economizar ao longo do tempo."
Brasil não tem lei para reutilização
Até o momento não há legislação brasileira que defina a qualidade e as propriedades da água de reúso e suas aplicações.
Recomendações sobre sistemas, atividades próprias para uso e qualidade da água estão em um manual desenvolvido pela ANA (Agência Nacional de Águas) e pelo SindusCon-SP (sindicato de construtoras; www.sindusconsp.com.br), entre outras entidades.
O manual pontua propriedades da água que devem ser conferidas periodicamente. "É aconselhável fazer análises laboratoriais todos os meses para checar a eficiência do sistema", diz Paulino de Almeida Neto, engenheiro da AcquaBrasilis.
Além do cuidado com a qualidade da água, não se pode esquecer a necessidade do uso de equipamentos de proteção individual -botas, luvas, capacete, avental e máscara acrílica- durante o manuseio da água de reúso, que não é potável.
A escolha do tipo de tratamento depende da oferta e demanda de água em seus possíveis usos não potáveis.
Tipos de tratamento
Peneiragem, filtro de carvão, filtros biológicos e aditivos químicos são opções de tratamento, de acordo com a proveniência do líquido e seu uso.
"A água pluvial pode ser reutilizada após peneiragem, filtro de carvão e cloração", explica Marcelo Zanini, diretor da Biosistemas Ambiental.
Para as águas cinzas, contaminadas por grande quantidade de matéria orgânica, a filtragem biológica é a mais indicada pelo seu custo-benefício.
Embora esse processo de tratamento seja bem mais caro que os de peneiragem e de filtro de carvão, a água tratada com a sua aplicação tem mais opções de aproveitamento, como na bacia sanitária.
"É necessário um processo de desinfecção dessa água de reúso", afirma Ivanildo Hespanhol, diretor do Cirra (Centro Internacional de Referência em Reúso de Água) da Universidade de São Paulo.
Estações que reúnem fases desde a flotação, peneiragem, passando por filtração biológica aeróbia e anaeróbia e com cloração final para desinfetar a água, são projetadas em espaços que podem ser subterrâneos, dentro ou fora do edifício.
"As estações domiciliares são chamadas de compactas, definidas pelos tipos de componentes utilizados", esclarece Gilson Cassini, presidente do Sindesam.
Fonte: Folha de S.Paulo
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